segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Capítulo I - Estrada para o Inferno

Estava terminando de arrumar minha mochila quando escutei a buzina que reconheci ser do carro do Victor, que me esperava dentro da van onde levaria os instrumentos. Pedi ajuda com as partes da bateria, mas fiz questão de carregar o surdo, pois tinha coisas dentro dele que deveriam ser transportadas com cuidado.

22 de Dezembro de 2012

O barulho de música e de pessoas bêbadas deu lugar a rezas, gritos histéricos e conversas sobre o que tinha acabado de passar na televisão.

-...Permaneçam em suas residências, tranquem as portas e aguardem socorro- Dizia a mulher, com um visível nervosismo, mal acreditando nas palavras que saiam da sua boca.

-Esperar? Essa mulher tá maluca?- Gritei para o meu seboso colega de banda, Vitinho.

-Tem idéia melhor?- Respondeu ele, mesmo sabendo que eu tinha razão.

Não tive tempo de responder, pois ouvi um grito e, logo depois uma pessoa correndo da cozinha. Ela tentava se expressar, mas as palavras não saiam da sua boca.

Peguei uma faca da mesa mais próxima a minha bateria e furei a pele do surdo. As pessoas acharam que eu estava maluco, mas eu revelei o motivo de ter levado pessoalmente essa parte da bateria que tive cuidado de não tocar durante a apresentação.

-Pega e vai ver o que é.- Enteguei ao Vitinho uma 38mm, que uma semana atrás eu havia roubado da coleção pessoal dele.

-Estou esperando esse momento faz um bom tempo...- Disse, do alto da minha torre de cinismo, ao Vitinho, que não teve tempo para discutir o assalto à sua coleção pessoal, que ele pensava ser secreta.

Escutei um grito, mas não era um grito comum, era um gemido, um grunhido quase inumano, que depois de dois tiros foi silenciado. Vi que meu colega tinha voltado, com a barra da calça um pouco suja de sangue.

-Depois a gente discute isso- Disse, apontando a 38 para a minha cabeça, mas não em tom de ameaça.

Peguei a chave da Van e reuni as pessoas menos histéricas para entrar no veículo. Para que? Quando saí, vi a situação em que a cidade se encontrava. Hidrantes destroçados, Casas pegando fogo, pessoas atirando a esmo e ataques de pessoas putrefatas contra cidadãos indefesos, que só conseguiam gritar e correr.

Numa situação dessa, eu não podia fazer muita coisa, se eu ficasse em alguma residência, além de provavelmente sofrer uma invasão, os estoques de comida e bebida não seriam eternos. O lugar mais óbvio para correr era um supermercado, pois tem poucas entradas e suprimentos o suficiente para sobrevivermos até termos uma estratégia montada.

-Já tem um plano? - Alguém me perguntou.

-A curto prazo, ligar o som do carro e ouvir alguma música que preste. - Coloquei Highway do Hell do AC/DC(nenhuma música poderia ser mais apropriada)- A médio prazo, quando a gente chegar no mercado, mais precisamente no Carrefour, que fica perto do Shopping e longe do centro, um amigo meu vai estar nos esperando, segurando a barra e dando suporte técnico para alguma coisa...A longo prazo eu improviso no caminho.

Highway to Hell (Young, Young, Scott)
Sem sinais de "pare", sem limites de velocidade
Ninguém vai me fazer reduzir a velocidade
Como uma roda, vou rodar
Ninguém vai me sacanear
Ei Satã, paguei minhas dívidas
Tocando em uma banda de rock
Ei mamãe, olhe para mim
Estou no meu caminho para a terra prometida

Estou na auto-estrada para o inferno
(Não me pare)

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